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Saturday 25 December 2010

RITUAL DE SACERDÓCIO NO CANDOMBLÉ DE NAÇÃO KETU.


Odu ejé




Odu ejé, orò odún kéje ou odum ejé são nomes pertinentes a obrigação de sete anos, que pode ocorrer a partir dos sete anos de feitura de santo de um elegun, iaô ou outro iniciado, desde que estes tenham pago suas obrigações de um (1) ano odú Kíní e três anos odú kétà.


Importância


Esta obrigação é uma das mais significativas e impotantes na vida de um iniciado, pelo fato de marcar um novo ciclo, adquirindo posição ou statos na hierarquia familiar do candomblé, pois é um rito de passagem de iaô para ebonmi.


Dependendo do espírito de iniciativa, liderança e aptidão, que esta pessoa tenha no ciclo de convivência do povo do santo, pode ser pronunciada a comunidade, pelo seu babalorixá ou iyalorixá a continuar no ile axé de iniciação, agora como sacerdote ou sacerdotisa, ocupando cargos como iamorô, iyalaxé, sarapembê, iyaefun etc. Ordinariamente se ouve dizer que "fulano de tal" recebeu o cargo na obrigação de sete anos.


Neste sagrado ritual, o novo ebonme estará apto também a tornar-se um Babalorixá ou Iyalorixá para fundar o seu próprio ile axe, dependendo da confirmação no jogo de merindilogun consultado previamente. Daí a obrigação de Odu Ije como é chamada mais popularmente, Odu Èje (referente ao número 7 - Èje) é programado e feito com outro ritual chamado de Oyê.



Foto: Oyè no Ilê Babá Omi.Babalorisá Erick de Osalá ladeado pela Yá Sihá Silvia de Osún e Babá Apokàn da casa, Babalorisá Marcos de Obaluaê.

Friday 24 December 2010

MÃE HILDA - Guardiã da tradição de axé.













MÃE HILDA JITOLU


Hilda Dias dos Santos, a mãe Hilda Jitolu, nasceu em Cosme de Farias (antiga Quinta das Beatas), em Brotas, bairro de Salvador. Aos treze anos, mudou-se para o Curuzu, onde cresceu, casou-se com Waldemar Benvindo dos Santos e teve seis filhos: Antônio Carlos, Dete Lima, Vivaldo Benvindo, Hildemária Georgina, Hildelice Benta e Hildelita. Hildelita faleceu aos nove anos de idade e Hildemária há três anos.


Mãe Hilda sempre ensinou aos filhos a importância e o respeito ao candomblé. Eles acompanharam desde criança os rituais, as festas e as obrigações. O primeiro deles, Antônio Carlos dos Santos, também conhecido como Vovô do Ilê, fundou o bloco Ilê Aiyê, é filho de Oxalá e ogan de Obaluayê.


A segunda filha, Dete Lima, é ekédi de Oxum, confirmada há 22 anos. Dete Lima também ocupa o cargo de diretora do Ilê Aiyê, além de artista plástica, responsável pelo figurino e coreografia do bloco.


Vivaldo Benvindo, filho de Logum Edé e ogan do Ilê Axé Jitolu, é diretor do Ilê Aiyê e um dos responsáveis pela coordenação das ações artísticas e culturais.


Hildemária Georgina estudou no Rio de Janeiro e foi funcionária pública. Filha de Oxossi, foi confirmada yalorixá, recebeu o deká em 2002, meses antes de falecer.


Hildelice Benta, filha de Oxalá, é diretora e professora da Escola Mãe Hilda Jitolu


Com a educação voltada aos valores da negritude, mãe Hilda cresceu em meio ao candomblé e à cultura africana. Aos vinte anos, foi iniciada na religião e, após dezesseis anos, recebeu o deká. Aos 29 anos, mãe Hilda fundou o terreiro Ilê Axé Jitolu, ao lado de sua casa, onde mora até hoje.


A primeira festa do ano é em homenagem a Oxalá, realizada no mês de janeiro. No mês de agosto, é comemorada festa para Obaluaê e, em setembro, a festa do caboclo Tupyassu.


Guardiã da fé e tradição africana


No carnaval de 2004, o bloco Ilê Aiyê homenageou mãe Hilda, com o tema “Mãe Hilda Jitolu: guardiã da fé e da tradição africana”, em comemoração aos 30 anos do Ilê.


Com 62 anos de iniciada no candomblé e mais de cem filhos e filhas-de-santo, mãe Hilda descreve todos esses anos um aprendizado com os orixás e uma vida de dedicação à religião e o sonho realizado de propagar a cultura afrobrasileira. “O axé é minha vida. É preciso ter fé nos orixás e isso eu ensinei a meus filhos desde cedo”, afirma. “Aqueles que são escolhidos pelos orixás devem seguir a religião, independente da cor, raça e sexo. É um presente de Deus”, completa.


Mãe Hilda e o Ilê Aiyê


O Ilê Aiyê – significa Casa dos Negros – teve início na casa de mãe Hilda, quando seu filho Antônio Carlos dos Santos – mais tarde, conhecido como Vovô do Ilê – decidiu criar um bloco afro. Dentro da residência, funcionava a diretoria, secretaria, salão de costura, recepção de associados e entrega de fantasias.


Hoje, a sede do bloco funciona próximo à casa de mãe Hilda, no Curuzu. É neste espaço que também funcionam a escola Band’Erê, o Projeto de Extensão Pedagógica do Ilê Aiyê e o convênio com o Projeto Axé.


Educação e Sociedade


Em 1988, mãe Hilda fundou a Escola Mãe Hilda Jitolu, com o objetivo de preservar os conhecimentos acerca da cultura africana, integrado ao compromisso social. A escola atende a alunos da primeira a quarta série, que aprendem o conteúdo do Ensino Fundamental e a cultura afrobrasileira, como os orixás, suas comidas e histórias. Aqui, em nome do Ilê Babá Omi e na figura de Babá Erick de Osalá presto homenagem à essa representante Jeje Mahi, baluarte da tradição africana no Brasil.

Ogã Rômulo de Oluaê

Na foto: Cortejo fúnebre em alusão à morte da yalorisá Hilda.

Monday 6 December 2010

OS TRÊS DOMINGOS DE OSALÁ

FOTO: ORISÁ AJAGUNÀ DE BABÁ ERICK- ILÊ BABÁ OMI



    OXALÁ

(do livro História de um Terreiro Nagô - Deoscóredes Maximiliano dos Santos- Mestre DIDI - Max Limonad-Joruês Cia Editora)

O Ciclo de Oxalá, Pai de Todos os Orixás

Os Três Domingos de Oxalá

Primeiro Domingo

As festas começam da mesma maneira que as demais já descritas, com uma diferença: todos os filhos do terreiro são obrigados a vestir roupa branca e não podem comer absolutamente nada que contenha sal, sangue ou dendê.

No intervalo da festa destinada à troca de roupa dos orixás, os presentes são servidos de adié (galinha cozida somente com cebola e ori - limo da costa), ebô (milho branco cozido com água sem sal), com o acompanhamento de aluá.

Depois dos orixás terem trocado de roupa, a Iyalorixá dá a ordem para os Alabê tirarem o cântico apropriado à entrada de Oxalá, canto que serve também para os demais orixás, que já estão vestidos e esperam no barracão:

Agô lonã morê ua ni xê

Agô agô lonã

Aí entram três filhas manifestadas com o grande Oxalá, vestidas de alvo, trazendo em uma das mãos o opaxorô, um cajado prateado com muitos enfeites. Na cabeça usam o adê (coroa), um prateado e os outros dois de pano todo bordado, com contas brancas. Dançam ao som dos atabaques, agogôs e xequerés (cabaça revestida de contas) algumas cantigas:

Ô fururu ló ô rê ô

ô kenen en lejibô

Ilê ifá motiuá babá

Okêrêrê lejibô ô

Eru ya eru ya ô

Euá ô euá e xê

Quando se canta essa cantiga, o orixá Oxalufã - Oxalá velho - dança, curvado pelo peso de sua velhice.

Quando os Oxalá já dançaram bastante, a Iyalorixá tira a seguinte cantiga:

Babá uô ri uô

Mele rin ô

Babá uô ri uô

Os orixás se retiram do barracão, com várias filhas a ampará-los e segurar-lhes as vestes. Logo em seguida a Iyalorixá também se retira, dando por encerrada a festa e convidando a todos para assistir à festa do domingo próximo.

Segundo Domingo

Nesse dia Oxalá recebe, das mãos de todo terreiro, a oferenda de uma cabra, várias galinhas, patos e pombos brancos.

À tarde, depois de ser feito o Padê, o assento de Oxalá sai do Balué em cima de uma charola muito bonita, toda ornada por angélicas, carregada pela Iyalaxé, a Iyamorô e outras duas pessoas da seita. A charola é coberta com o alá, um pano grande, todo alvo, seguro por uma das mãos de cada um que ali se encontra acompanhando a procissão. Daí seguem em direção ao Cruzeiro, reverenciando a casa do Ibó. Em seguida, voltam para a Casa Grande, nome dado a uma casa branca muito comprida, onde alguns orixá, entre eles Iyá, orixá da nação Grunci, têm assentados os seus peji...

Chegando à casa, entram com o andor, recolhem o alá e depositam Oxalá no seu peji. Depois fazem o oriki(saudação) e os orixás começam a chegar, menos os Oxalá, que já vinham acompanhando a procissão.

Em seguida, levam os orixá para trocar de roupas. No intervalo, os visitantes são servidos das mesmas iguarias do primeiro domingo - adié, ebô e aluá.

Os orixá, já de roupas trocadas, chegam ao barracão e dançam as cantigas tiradas então pela Iyalorixá. Neste domingo, além de Oxalá, chegam outros, como Nanã, Iemanjá, Ogun. Dançam uma porção de cantigas, até mais ou menos 11 da noite, quando a Iyalorixá manda fazer a roda de costume. Uma das cantigas que ela tira agora é essa, que convida os orixá a entrarem no barracão e dançarem:

Durô dê uá loná

ê á um bó keuá jô

Durô dê uá loná

ê a un bó keuá jô.


Terceiro Domingo

(Ojó Odô ou Dia do Pilão) - Às três da tarde, começam os preparativos para o início das obrigações. As filhas da casa, em grande atividade, fazem o necessário para que, em uma hora, tudo esteja preparado na sala da casa de Oxalá, a Casa Grande. Na procissão do Pilão, as filhas trazem bancos, mesas, panelas, balaios, tudo forrado por panos brancos e enfeitadas com ojás e com um feixe de atori (varinhas). Reúnem-se então todas as filhas, e, depois, a mãe Iyalorixá tocando seu ajá, faz as reverências precisas e com um dos atori toca os ombros das filhas de Oxalá, até que elas são manifestadas, iniciando-se assim os festejos. Cada uma das filhas da casa vai apanhando um daqueles apetrechos, de acordo com sua posição e seu eledá(guia). Quando todos estão prontos, vão saindo em procissão para o barracão e arriam todos os objetos em ordem, fazendo uma bonita arrumação, como num peji.

Todo esse preceito é acompanhado por cânticos adequados, até que por fim os Oxalá começam a obrigação dos atori. Primeiro Oxalá se senta e a Iyalorixá lhe entrega uma das varas. Em seguida, entrega varinhas também às filhas mais velhas da casa. Tiram uma cantiga e as pessoas, que estão munidas das varinhas, vão dançando em frente a Oxalá, que, batendo com a sua própria, faz como se estivesse surrando seus filhos. Logo após, todos vão tocando com as varinhas uns nos outros, e depois em todos os presentes, ao som da seguinte cantiga:

Uá mi xorô

Uá xorô ni ilê

Tanun apê ô

Uá mi xorô

Uá xorô ni ilê Terminada essa obrigação, tiram outra cantiga, que inicia a divisão das comidas:

Ô fururu lo êre ô

Ô keienen lejibó

Ilê ifan motiuá babá

Aji bô relê mojubá ô

Oluá êruáô éuáô êuáêxê

euá ô euá exê babá

euá ô euá exê

Além das comidas de costume, é servido inhame pisado em forma de bola, que vem dentro de um pilão. Depois com um novo cântico, são retirados todos aqueles apetrechos do barracão:

Xên xên un bé lôkô

Xên xên xên xên

Nilê ô xên xên?

Os orixás começam então a dançar, como de costume. Oxalá, mais belo que nunca em suas roupas maravilhosas, dança com aquele jeito calmo todo seu, sempre apoiado em seu opaxorô.

Por volta das onze horas, faz-se a roda para dar término à festa, fechando assim todo o ciclo das obrigações de Oxalá.